sexta-feira, 29 de abril de 2011

A sala, ela não tem janelas, nenhuma luz ousa nela entrar, nesta sala há somente uma porta. A antiga porta de sândalo é um convite a ser aberta, seu ferrolho artesanal sem fechadura, forjado por uma razão há muito esquecida.
Eles me dizem, abra essa porta... a curiosidade se torna um grito, o que pode estar ali?
Atrás dessa porta existe um piano, sua madeira negra quase some na escuridão, as teclas estão arruinadas, as cordas desafinadas.
Atrás dessa porta ela se senta ao piano, e quando ela começa a tocar eu prendo minha respiração. Ali ao piano eu a ouvi tocar, ali ao piano eu derramei seu sangue sobre o fogo de minha ira.
Eu tranquei esta porta, as pessoas perguntaram sobre ela, abra essa porta, ah como eles gritam!
Afastam-na do piano e ninguém acredita que eu... aqui estou em desgosto e podridão.
Ali ao piano ela me ouviu, e quando eu comecei a tocar, ela prendeu a respiração.


Micael Salton

quarta-feira, 27 de abril de 2011

rosinha

Uma garota viu uma pequena rosa, ela floresceu lá no monte brilhante, a garota perguntou ao seu amor se ele poderia traze-la de presente. Ela quer e tudo bem, assim foi e assim sempre será.
O menino sobe a cordilheira com grande sofrimento, a vista do vale ostenta rios e riachos, pastos e bosques, castelos e cabanas, reinos e cidades. 
Ele não liga para a vista, ele só pensa na pequena rosa, rosinha vermelha para seu amor. A escarpa bruta fere seu corpo, o sol queima sua pele e o vento maldito gela seus ossos. 
Ele continua, rosinha vermelha, ela a quer e esse é o hábito, assim foi e assim sempre será.
O menino alcança o cume, suas roupas meros farrapos, ele ve a rosa silvestre e a admira com alegria, seu coração em festa, finalmente rosinha, rosinha vermelha.
Abre um sorriso maldoso, sua face uma careta, diz o rapaz: Te arrancarei, rosinha vermelha! Diz a rosa: te espetarei, para que lembres eternamente de mim.
O rapaz selvagem a arrancou, a rosa reagiu e o espetou, não adiantou ai nem ui, ele teve que sofrer, rosinha vermelha, ele teve que sofrer.
A descida é igualmente difícil, a rosa em sua mão, quanto mais ele a segura mais ela o espeta, mas ela pediu, ela a quer e tudo bem, tudo que ela quer ela consegue.
Em suas botas uma pedra se desfaz, ele não quer mais estar no penhasco, mas não pode largar a rosa, sua mão fraqueja, não pode se segurar, rosinha, rosinha vermelha, um grito deixa que todos saibam, estão caindo em direção ao solo.




Micael Salton

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A impotência da informação

Na sociedade do multiculturalismo a informação é alçada ao status de divindade capaz de zelar por um progresso moralmente utópico, como se bastasse informar, e esta como entidade atuante fosse capaz de agir em mentes alienadas pela política dominante, condicionando tais mentes a agirem em favor de uma moral superior até mesmo contra seus desejos.

Dito isso a conclusão é que existem dois erros nas suposições dos "super-poderes" da informação; O primeiro diz respeito a idéia de que conhecimento meramente restrito pode levar a um engrandecimento de uma moral coletiva contrária aos desejos individuais. Seria a questão negativa da problemática, ou seja; se a informação seria capaz de nos impedir de conduzir certas ações. Praticamos ações moralmente erradas mesmo tendo consciência de seu vício. Impedir uma ação desacertada a um nível totalmente intelectual é um trabalho incabível, pois exige um afluxo de conhecimento tão amplo que chega a adentrar em níveis psicológicos e individuais inacessíveis para indivíduos externos. 
A experiência em seu sentido material é imperiosa para se atingir o rumo de um progresso coletivo, neste ponto chega-se ao segundo erro da idealização da informação, que pode ser dito como sendo a parte problemática positiva, que consiste na pergunta; a informação é suficiente para nos levar a praticar certas ações?
A príncipio tais questionamentos parecem ter o mesmo valor, ou dois lados da mesma moeda, considero porém a problemática positiva da questão de uma valia prática muito maior. Porém antes de adentrar na análise seria bom conceituar o que significa necessidades humanas na sociedade contemporânea de um país em franco desenvolvimento.
Partindo da realidade do mainstream de fato, é fácil ver que água e comida no seu sentido de prover sobrevivência não são mais bens escassos, ou seja, não falta trigo e açucar para o populacho, porém pode faltar carne ou ovos de páscoa. Nesse sentido as necessidades humanas evoluíram para além de uma mera condição de sobrevivência.
Tendo em vista quais são as necessidades básicas conteporâneas torna-se fácil manter uma mente mediocre em êxtase, basta-se fazer certas concessões e acalma-se o ânimo daquele que se sentia injustiçado.
A militância atual diria; falta informação para o mainstream, ensinem a eles como a sociedade os oprime, como seu dinheiro aumenta pouco em comparação com o do burguês safado, aquele pilantra. Libertem suas mentes da prisão ideológica da grande mídia.
O grande erro da militância anti-capitalista é justamente achar que a informação por si só é capaz de gerar um efeito positivo, ou seja, catapultar uma ação. Na prática o que ocorre é muito simples, a pressão militante é como um mosquito, incomodando o sistema, para se livrar desde incômodo o capitalismo gera concessões e então agora o poviléu pode comprar uma tv de 40 pol. O grande rico possui um home theater, mas o conhecimento deste fato não me atinge, afinal eu não estou como ele, mas tenho algo ok também, regojizem-se e enterrem sua ambição! 
A satisfação que a concessão capitalista gerou é suficiente para manter qualquer idéia mais revolucionária em baixa. 
Nesse sentido a militância anti-capitalista pode ser vista como um ferramenta do próprio capitalismo para manter sua sobrevida.
Enquanto o sistema for capaz de gerar riqueza suficiente para manter as concessões, a informação vira um expediente sem efeito, sem a experiência da necessidade, nada feito.


Micael Salton